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Janeiras ou Reisadas

Jan/2020 por Departamento de Línguas - Português



Chegou Janeiro e com ele as janeiras. Pelos caminhos das aldeias seguem os reiseiros com as suas violas e bandolins, harmónios e cavaquinhos, indo de porta em porta cantar os reis e pedir ofertas. De Norte ao Sul do país se cantam as janeiras. As portas abrem-se para receber os reiseiros e o anfitrião é presenteado com cantos ao som de instrumentos como o Menino o foi pelos Reis Magos com oiro, incenso e mirra no dia do seu nascimento.
Após escutar com atenção os versos que lhe foram dedicados, o dono da casa convida os reiseiros a entrar e recebe-os com algumas iguarias que retira do fumeiro. Se quem recebe é generoso pode a festa durar até tarde. Contudo, se a casa é fraca e o acolhimento pouco simpático, os reiseiros lançam-lhe à despedida algumas quadras satíricas em lugar dos habituais agradecimentos.
Como é evidente, o costume de Cantar os Reis ou as Janeiras prende-se com a tradição cristã do nascimento do Menino Jesus e das oferendas feitas pelos Reis Magos quando estes se dirigiram à gruta de Belém.
A designação de Janeiras ou Janeiradas pela qual passaram a ficar conhecidas as Reisadas apenas se deve ao facto das mesmas ocorrerem no primeiro dia do ano, apesar do costume de as prolongar até ao Dia de Reis ou “Adoração dos Reis Magos”, que em Portugal se celebra no dia 7 de Janeiro.
Sob uma forma mais ou menos cristianizada, o costume permanece e chega até nós graças à tradição, atravessando gerações e sofrendo as influências de cada época. E o que parece mais notável, numa altura em que, a toda a atividade humana é retirada a sacralidade que caracterizava as sociedades antigas e a espiritualidade cede o lugar aos bens materiais e outras ilusões terrenas, eis que o Homem faz renascer de novo as suas velhas tradições e estas regressam cada vez com maior brilho e fulgor.

É que, para dar sentido e propósito à sua existência, o ser humano jamais pode abdicar da sua essência da qual faz parte integrante a sua própria dimensão espiritual.

Algumas quadras recolhidas nos Açores por Vitorino Nemésio

Ó de casa, alta nobreza,
Mandai-nos abrir a porta,
Ponde a toalha na mesa
Com caldo quente da horta!

Teni, ferrinhos de prata,
Ao toque desta sanfona!
Trazemos ovos de prata
Fresquinhos, prá vossa dona.

(…)

Vimos honrar a Jesus
Numas palhinhas deitado:
O candeio está sem luz
Numa arribana de gado.

(…)

Já as janeiras vieram,
Os Reis estão a chegar,
Os anos amadurecem:
Estamos para durar!

Já lá vem Dom Melchior
Sentado no seu camelo
Cantar as loas de cor
Ao cair do caramelo.

O incenso, mirra e oiro,
Que cheirais e luzis tanto,
Não valeis aquele tesoiro
Do nosso Menino santo!

Abride a porta ao peregrino,
Que vem de num longe, à neve,
De ver nascer o Menino
Nas palhinhas do presépio.

Acabou-se esta cantiga,
Vamos agora à chacota:
Já enchemos a barriga,
Sigamos nossa derrota!

Rico vinho, santa broa
Calça o fraco, veste os nus!
Voltaremos a Lisboa
Pró ano, querendo Jesus.




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